A cada novo dia mais escuto
A cada novo dia mais escuto
gente pelas vielas reclamando
que mulheres não trazem bom futuro,
que dispensam marido por matuto,
que quem ama só está se condenado.
Contudo, a cada dia vou pensando
do topo de um teimoso viaduto
em como não me sinto me queimando
embora há tanto esteja me entregando
com querer puramente resoluto.
Por quê? Por que é que eu tive tanta sorte
de me entregar à Abelha estando cego
e ainda ter meu peito firme e forte
sobre o que quero em vida até a morte
sem nem ceder os luxos de meu ego?
E pior! Por que sinto que me apego
justamente por causa do suporte
só possível se inteiro a ela entrego
o que sou e sem medo disso nego
que haja algo para mim que mais importe?
Por que posso amar feito adolescente
enquanto outros precisam de cuidado
a ponto de descrerem francamente
que o amor pode ser puro e inocente
e o tratarem como algo envenenado?
Só pode ser porque sou namorado
a uma mulher incrível tão decente
que me cuida de modo delicado
a todo instante e tão naturalmente
que não me sobra tempo preocupado.
Por isso tenho orgulho em atendê-la
sem pensar nas pessoas das vielas
e a obedeço que nem fiel ovelha
feliz que em Jesus Cristo bem se espelha
para poder viver as coisas belas.
Neste mundo de dédalos de celas
a liberdade zune como abelha
chamando para fora das mazelas,
para longe do estrondo das procelas,
para dentro dos braços da centelha.
Com ela vou, perene, em segurança,
à languidez de um lar lento, e leal,
e leve, e limpo, e lindo onde a bonança
manda, mantém, manobra o vento em dança
sem medo de partir-nos, um casal.
Com ela voo às nuvens, animal
de asas simples e ternas de criança...
Longe às tristes vielas e ao mal,
só pensando em amá-la até ao final,
vou voando avançando a vida mansa...
7/9/2018