CLAMOR
Chamem os jornais e revistas,
Um homem se matou por amor,
Dois goles e uma medida
Direto goela abaixo!
Nem era bela a razão
E a morte desceu dançando,
revirando olhos loucos,
Desentranhando feridas.
Tinha um quê de clamor
Nas mãos crispadas de ódio,
Amor bem envenenado
nas esquinas suicidas.
Morava na casa ao lado
Onde toda noite a via
Beijar homens inocentes
Que não sabiam a que vinham.
Se apaixonou de repente
numa noite mal dormida,
Espiando pelas frestas
casa,cortina,vestido,
pernas,lábios,cabeleira,
Vitrola,riso,bebidas...
Nunca mais teve sossego,
Amor pegou de soslaio,
Pediu conta de emprego,
Juntou dinheiro de mês,
Quase todo o salário,
Mas antes comprou um terno
sem saber,de outro usado,
No mesmo pano de linho,
mesmo destino traçado.
Colou versos de caderno,
Té vinho ele levou,
Flores,bombons,bala ardida,
Tudo muito baratinho
Onde o nome empenhou.
mas o nome era outra coisa,
Isso pouco importava,
Se era linda,se era meiga,
Se sabia escrever cartas,
Se podia ver Pessoa
Nos olhos de outra pessoa...
Tudo isso ele pensava.
Sem saber a que veio,
Como os outros que estavam
Esperando a sua vêz
Com flores,bombons,sorrisos,
Eternos,bem apanhados,
Dos degraus do paraíso
ouviu quando foi chamado:
"senha três,pode subir,
Terceira porta à direita..."
Mas amor não faz fiado,
Amor bate em porta errada,
Cobra á vista os desenganos,
Não assina promissórias,
Mês a mês,ano a ano,
Compulsivo e compulsória.
Chamem os jornais e revistas,
Estapem em primeira mão
Com a mesma tinta da noite
O clamor de um coração.