Assassínio
Puxei o gatilho
No tempo de um susto,
Sob breve desencerrar de meus lábios
E ânsia de saber-me mau.
Ela ameaçou retornar,
Pôs-se a regurgitar
Uma súplica qualquer,
Que no seu melhor
Oscilava entre esboçado amor
E teimosia; quiçá medo.
No abrigo de lembranças, hesitei,
Quis socorrê-la,
Mas sentindo o granizar sombrio
Ante o telhado mêmore,
Atirei seguidamente,
Ao compasso do pasmo
De meus olhos hirtos.
Assim ficciono a morte
Do que há dela em mim.
Esquecê-la em vida, não a posso.
Sou cético demais para exorcizá-la.
Resta-me assassiná-la em pensamento,
Ainda que o ferido seja eu.
Permanecerei vivo
Nos buracos de meu ser,
Perpetuarei-me
Com os então estranhos resquícios,
Esquecidos às bordas.