POESIA CÚMPLICE

Sem nunca ter pedido licença à conchas

sei o que são pérolas...

Bastou que teu olhar atravessasse

o continente da minha solidão,

brilhassem como faróis em meu revolto mar,

tornei-me parte de todas as coisas,

da tábua o gomo, da raiz o aroma,

da lua um de seus raios,

da bruma seu doce frio...

Sem nunca ter pedido licença à tristeza,

nenhum bilhete escrito à mão,

dei-me de rir sem motivo,

sem razão a loucura me adotou:

o amor, rima sem métrica,

faz-se poesia cúmplice...

Hoje já não sou o que fui

e nem serei o que agora sou;

todo castelo um dia rui

e lá brota lânguida flor...