Como gostaria de saber escrever um poema de amor...
“Um poema de amor …”
É agora madrugada…
Fecho o livro, tranco as pálpebras
aos cansaços,
às imagens,
às palavras,
aos andamentos assíncronos
dos ritmos sincopados em cordas soltas,
… as nossas bocas,
a sede inextinguível das nossas bocas de carmim.
Encerro aberto o cofre das memórias,
das notas, das cadências,
dos violinos, dos violoncelos,
do fascínio da lírica do oboé…
Memórias
plasmadas nos simbolismos da partitura dos corpos
justapostos aos fervores emergentes do sol-pôr.
Esta peregrinação de asas soltas,
… este ninho que te construo, fio a fio,
no estertor dos barros de candura,
em arquejos silenciados
ao voo sublime,
num voo demarcado na cartografia da dor …
Na solidão da noite, entrego-me às flores e às palavras,
disponho-as metodicamente alinhadas sobre a mesa,
sou organdi, sou cetim.
Desnuda, perfumo-me de salva e de jasmim...
E sou promessa
e sou desejo
e sou pião sustido nos dedos da tua mão.
É agora madrugada…
Fecho o livro, cerro as pálpebras em epílogo…
Deslizo já extinta a velocidade da luz,
plano o sangue dos astros,
os sonhos continuamente abstractos,
rio acima, rumo a norte e por fim, amado …
mergulho à luz ténue na nascente de ti,
e sou paixão, e sou ternura.
Talvez loucura …
Como gostaria de saber escrever um simples poema de amor...
Um poema de amor, amado, à tua altura!