BARCO VIDA
Ah! meu barco, chamado vida,
vive à deriva,
balança nas ondas deste mar de emoção,
veleja sem destino
terra firme não alcança,
não tem porto, nem estiva,
pobre coração, mergulhado no prazer,
encanta, desencanta,
não sabe como sentir,
esqueceu de definir,
Ah! meu barco, leva vida afora,
por terras dantes vistas
este desbravador sem conquistas,
que passa pela vida, sendo amado, odiado,
porque não se cala diante da ferida,
não conhece indiferença,
já hesitou, vacilou, é bem verdade,
mas não perde a crença;
Ah! meu barco, pare por favor,
na ilha dos perdidos, onde a noite é fria,
desembarque minha dor,
sem amor na proa, a vida é vazia,
adormece em águas profundas
e fica à toa...
Então, sob este céu azul anil,
descortine o porão da sensação,
singre mares e oceanos,
em busca do sutil
e impossível amor.
ANDRADE JORGE