A FLAUTA INFIEL

Desvestida, a flauta se insinua

linda, sua boquilha me desfalece.

Estou calado, minha alma destoa

mas a flauta está ali, composta.

Me deslumbro com sua nudez

suas notas perfeitas me comovem.

Estou perdido... seus lábios me devoram

já não me reconheço nesta sinfonia.

Sua imensidão me atingiu em cheio

não esperava ser tão demasiado seu.

Você, lembrança minha, como amava

como sorria, como era macia sua pele.

Como me atraía sua leveza... sua

beleza ácida, seu olhar profundo.

Tínhamos desejos desperdiçados

no outono, nas cartas, no quarto.

Era você, que agora volta sem voltar

sem ser ainda, de todo, coisa alguma.

Esquece-se, de quem tanto dizia amar.

Entrego-me - à quem tanto queria odiar!

Mas, um dia... a música fluída cala

e o amor, alheio, também acaba.

Aquele sorriso aberto se desvanece

e você, indiferente, me deixa na sala.

Meu coração dolorido está no chão

marcado pelos sulcos dos seus pés.

Despedindo-se: me olha da porta

me deseja, me beija, mas parte!...

NivaldoRibeiro
Enviado por NivaldoRibeiro em 01/08/2018
Reeditado em 29/05/2023
Código do texto: T6406902
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