A FLAUTA INFIEL
Desvestida, a flauta se insinua
linda, sua boquilha me desfalece.
Estou calado, minha alma destoa
mas a flauta está ali, composta.
Me deslumbro com sua nudez
suas notas perfeitas me comovem.
Estou perdido... seus lábios me devoram
já não me reconheço nesta sinfonia.
Sua imensidão me atingiu em cheio
não esperava ser tão demasiado seu.
Você, lembrança minha, como amava
como sorria, como era macia sua pele.
Como me atraía sua leveza... sua
beleza ácida, seu olhar profundo.
Tínhamos desejos desperdiçados
no outono, nas cartas, no quarto.
Era você, que agora volta sem voltar
sem ser ainda, de todo, coisa alguma.
Esquece-se, de quem tanto dizia amar.
Entrego-me - à quem tanto queria odiar!
Mas, um dia... a música fluída cala
e o amor, alheio, também acaba.
Aquele sorriso aberto se desvanece
e você, indiferente, me deixa na sala.
Meu coração dolorido está no chão
marcado pelos sulcos dos seus pés.
Despedindo-se: me olha da porta
me deseja, me beija, mas parte!...