Um bolso de recordações
Pressinto que talvez devêssemos ter dois dedos de prosa,
quem sabe em tua bondade perdoaria minha covardia,
poderias até me enxergar de olhos fechados,
tatear meu carinho por ti e contemplar meu amor,
sei que feri teus sentimentos de modo infeliz,
quando te prometi um coração que não possuía,
creia-me eu quis ter um e ser como tu eras,
dediquei-te meus dias, noites e madrugadas,
em cada palavra trocada, uma profusão de sensações,
em cada melodia embalando nossa experiência, um infinito raiava,
costurei em minha alma perdida um bolso de recordações,
nele guardei cada sorriso, cada beijo, cada jura trocada,
músicas, poesias, desejos, planos, sonhos e esperanças,
retratos enamorados de corpos que se tocavam nas estrelas,
revia-os todos os dias para me permitir ser humano como tu,
mas tu desprezavas as sombras nas quais precisava me ocultar,
ignoravas o quanto os raios do sol cegavam meus olhos,
ignoravas o quanto o ar puro sufocava meus pulmões,
ignorava como meu rosto era estranho à estética da tua perfeição,
nada eu pude fazer para mudar tal realidade sem atingi-la,
escolhi então deixar teu universo em paz e abrigar-me longe,
ver-te pelas frestas das constelações distantes,
observar-te através da nebulosa do cosmos,
sentado num planeta satélite com meus pensamentos silenciosos,
momento de tocar o bolso e ler-te em minhas memórias,
colorindo meus grafites de teu semblante,
intensificando minha imaginação de teu perfume,
jamais saberás o quanto meu espírito quebrou-se ao saber-te triste,
pois se eu tivesse a vida que querias para mim a viveria por ti,
se eu fosse a imagem que sonhavas no espelho iria até ti,
se houvesse um coração pulsando em mim, seria teu...