PEDAÇOS DE POESIA

Num dia de ócio e pouco trabalho

desmontei o amor e sua maquinaria,

retirei poeira e engastalhados galhos,

um frasco de sonhos e duas poesias...

Tinha papiros e hieróglifos calados,

manchas de dúvidas e mil oferendas,

bocas semi-mudas, olhos esbugalhados,

dois faquires chorosos, túnicas de renda...

Ao tocar a pele do amor consentido

ouvi um suspiro de calar montanhas,

como se partisse uma lótus de vidro

frescor de estilhaço veio das entranhas...

Sabia-me pouco de seu funcionamento

e nem reparei num pedaço de lágrima

que pendia do lado esquerdo e o tempo

parado ouvia e em seu rosto a pátina...

Remontei aos poucos e pude reparar

que o céu movia nuvens e já muito chovia

deu-me de sentir o âmago da palavra amar

e dos meus lábios caiam pedaços de poesia...