CONSIDERAÇÕES SOBRE A BELEZA
Ela é linda como uma foto na parede, emoldurada. Como uma paisagem vista da janela, perto e longe ao mesmo tempo. Não há dúvidas, porém, de que sua beleza é uma constatação dos olhos, uma espécie de princípio que ultrapassa o meio e o fim; que transcende a mera observação e passa a viver em nós. Parece um desígnio de Deus, uma presença que só se constata por meio da fé, como uma fruta madura que nunca conseguimos alcançar, mas que continua lá, no topo da árvore, esperando. Quando ela passa, todas as ruas ficam vazias, ou são meus sentidos que se concentram apenas nela, deixando de lado todo o resto? Quando chego perto, tento sentir um perfume que seja, para guardar dentro da memória, às margens do tempo; mas minhas sensações passam a viver num lugar de sonhos, onde os cheiros não existem, mas tão somente luzes, vindas dos olhos dela. Sinto que ela guarda os maiores segredos, sob sua pele branca e seus cabelos negros, sob suas vestes demasiadamente simples, e um cansado sentimento de pureza. Ela guarda o insondável mistério do corpo, das coisas impossíveis, dos amores eternos; como um lampejo e um canto, uma voz e um sopro, tudo que as palavras não podem expressar. Ela tem uma beleza contraditória, que invoca o bem e o frio; embora saibamos que, querendo ou não, ela provoca calor e induz ao pecado.