CARTAS DE AMOR
Entoxicado pelas flores da Primavera
E temendo as rasteiras que o mundo dá
É que enamorou-se de algum ser vivente
Não importa se planta ou donzela semovente.
E em cólicas dolorosas das obrigações poéticas
Escreveu cartas, algo tão antiquado quanto inútil,
Esperando um olhar da fome chamada companheira,
Que mesmo sem rosto, poderia ser a razão pra vida inteira.
Mas o inferno de amar é essa desconexão previsível,
Razão do torpor da mente e do ridículo risível.
Onde a poesia brota em escala industrial
E o senso declina em favor do irreal.
Pois bem, felizmente o tempo passa,
Por sobre as pessoas e através da estultice.
Cartas são parvoíces devidamente queimadas
E a primavera espera, até a próxima empreitada.
Pobre de quem se arrisca na escrita açucarada
Perdendo a dignidade, o sono e as madrugadas.