CARTAS DE AMOR

Entoxicado pelas flores da Primavera

E temendo as rasteiras que o mundo dá

É que enamorou-se de algum ser vivente

Não importa se planta ou donzela semovente.

E em cólicas dolorosas das obrigações poéticas

Escreveu cartas, algo tão antiquado quanto inútil,

Esperando um olhar da fome chamada companheira,

Que mesmo sem rosto, poderia ser a razão pra vida inteira.

Mas o inferno de amar é essa desconexão previsível,

Razão do torpor da mente e do ridículo risível.

Onde a poesia brota em escala industrial

E o senso declina em favor do irreal.

Pois bem, felizmente o tempo passa,

Por sobre as pessoas e através da estultice.

Cartas são parvoíces devidamente queimadas

E a primavera espera, até a próxima empreitada.

Pobre de quem se arrisca na escrita açucarada

Perdendo a dignidade, o sono e as madrugadas.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 19/07/2018
Código do texto: T6393943
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