Lá, bem distante
Tenho um cantinho, bem distante, longe de tudo,
Aonde vou sempre ao final da tarde.
Lá eu guardo para mim, a sete chaves, meu paraíso.
Lá, alguém me espera, de corpo e alma enfeitados,
Com um sorriso e olhar angelicais,
Braços abertos e um coração repleto de amor.
Nossa casinha toda branca, com vasos de plantas nas janelas,
Em meio a um jardim onde as flores renascem a cada dia,
Com todos os matizes da primavera,
É onde me refugio dos desencantos do mundo.
Lá não entram a dor ou a solidão;
A violência ou o medo;
O ódio ou as mágoas.
Naquela casa só permanecem o amor e a paz.
É tão distante que ninguém pode alcançar;
É tão perto que ninguém pode imaginar.
Há um riacho que passa bem pertinho, sempre sussurrando;
Há os pássaros, de todas as cores, sempre a cantar.
Quando abro a porta e entro com meu amor,
O mundo silencia, as preocupações vão embora
E a natureza, à volta, se orna para nos embalar.
Esse mundo está ao alcance de todos,
Basta possuir um coração meigo e amoroso,
Sem jamais permitir que o mundo o corrompa.
Todo dia, ao final da tarde, fecho os olhos,
Silencio a minha voz, acalmo a respiração,
Esvazio a minha mente, abro os braços e me deixo levitar.
Então vejo, com todos os detalhes, o meu cantinho, além do mundo,
Onde só eu posso ir.
Nesse instante eu estou lá, bem distante,
E ali permaneço de corpo e alma,
Banhando-me na almejada fonte da juventude,
Que poucos conseguem achar.
Seria simples, como um piscar de olhos, encontrar esse lugar,
Não fosse necessária uma alma de criança,
Aberta à fantasia com o singelo dom de amar.