Escravo do amor.

O amor que no peito anela,

Que outrora me fez prisioneiro,

Oriundo de bela face de princesa,

De olhar reluzente, majestoso,

Este marinheiro das palavras,

Este triste e solitário cancioneiro,

Sentiu em si a dor de amar,

Apertando a alma em estreito,

Amor que tanto me flagela,

Amor que me consome por inteiro.

E as vagas lembranças no pensamento,

Lembranças desse áureo tempo juvenil,

Quando então o amor inspirou,

Os versos tortos deste aedo solitário,

Como uma flor ele crescia a cada dia,

Despontando no olhar a chama ardente,

Eu que pensava ser amor eterno,

Jamais imaginei que em certo dia,

Choraria toda a angústia de uma perda,

Aquele amor resolveu ir embora.

Outro dia, em um lindo jardim,

De uma cidade distante interiorana,

Lá estava ela, ledo anjo de meus sonhos,

Enfeitando as flores com sua beleza,

Desfilando o seu perfume entre as rosas,

A mais bela das ninfas,

A enlouquecer este poeta esquecido,

Meu coração tão atrevido,

Este marinheiro penitente,

Arriscou-se nas turbulentas águas do amor.

Desde então, que o amor me laçou,

Levando-me por caminhos desconhecidos,

Caminhos que nunca antes vi,

Meu coração desnaturado aventureiro,

Desbravou cada nova aventura,

Neste tão perigoso reino,

Mas o amor às vezes muito carrasco,

Escravizou a minha alma de poeta,

Desde então, passei a viver desolado,

Triste ave sem poder voar.

As vezes eu penso que a esqueci,

Nesses raros momentos,

Surge sentimentos de alívio,

Mas basta ouvir ao longe a sua voz,

Basta apenas ver sua encantada face,

Basta apenas isso,

E o monstruoso amor reaparece,

Surgi novamente dentro do peito,

Me flagela no troco do sofrimento,

Escravo me tornei desse sentimento.

Quisera eu poder um dia,

Ver-me livre desse algoz atormentador,

Quisera eu poder um dia,

Ser livre como o beija-flor,

Quisera eu poder um dia,

Ter um verdadeiro e grande amor,

Quisera eu poder um dia,

Me realizar em cada verso,

Quisera eu poder um dia,

Ter nos meus lábios, o sabor dos teus lábios.

Mas os teus lábios, agora tão distantes,

Assim como o seu coração longínquo,

Cada vez mais distante do meu,

Sou então este pobre Romeu,

Em agonia por amor intenso,

Minha amada Julieta,

Escondida de meus olhos e meus sonhos,

Não quer saber do meu amor,

Peregrino poeta que sou,

Perseguindo esse amor sem fim.

Minha poesia agora é choro e palavras,

Minha poesia agora é um canto triste,

Minha poesia agora é uma adoração muda,

Minha poesia agora é a canção do exilado,

Minha poesia agora é a revelação de meus segredos,

Minha poesia agora é um tributo a esse amor,

Minha poesia agora é toda feita ao anjo ledo,

Minha poesia agora é escrita sem medo,

Minha poesia agora é o meu desespero,

Minha poesia agora é um convite ao amor.

O amor que se faz tão presente e ausente,

Amor insano e inconsequente,

Amor que me corrói por inteiro,

Amor tão desordeiro,

Fazendo confusão neste seio aedo,

Enlouquecendo as estrofes de meus versos,

Amor que jamais terei,

Lábios que jamais beijarei,

Despeço-me então ao infinito,

Como uma estrela triste e solitária.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 07/07/2018
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