DUELO

Tenho dois mares em mim

Um vivo e outro morto

Por fora, o encontro deles

É tudo que veem os outros

Dois serem me habitam

Um vívido, o outro moribundo

A falta de harmonia entre os dois

É tudo que se percebe no mundo

Na batalha campal do meu peito

O infindável duelo de espadas

Entre o poeta que quer amar

E o Boêmio que quer ser canalha

Não posso ver uma flor ferida

Nem posso ver um botão se abrir

Me compadeço da primeira

Mas a última me põe a sorrir

Eu tive no amor um ledo engano

Em todas ciladas d’amores caí

E ao sentir o frio da solidão pela janela

Usei a mesma janela para do frio sair

Sigo a estrada esburacada

Cheia de ribanceiras traiçoeiras

Com o coração cheio de mágoas

Caminho e planto bananeiras

Não tenho pena de mim

Fiz dela uma caneta

Tão como do amor ingrato

Fiz um desenho de borboleta