POETA ROUBADO
 
Fui roubado pela incompreensão
Dos homens,
Pelas mulheres desengonçadas:
A morena, a loira e a negra dos
Cabelos molhados.
Fui roubado
Não porque quis me julgar o
Indivíduo crucificado de paletó
E galocha;
Dos fundamentos teológicos,
Que embriagam todas as noites
Quando vou dormir.
Fui roubado.
Meus olhos apontam o crime
Cometido, mas meus olhos estão
Ofuscados pela realidade irrealista,
Dos próprios culpados.
Meu coração ferve de ódio,
Mas um ódio tão insignificante,
Que saem todos pelos meus poros.
Fui roubado.
Roubaram os corações daqueles,
Que me magoaram,
Os olhos dos que não me alcançaram,
As pernas dos que me perseguiam,
Os rostos daqueles que me contemplavam.
As peles daquelas que me acariciavam,
Os corpos daqueles que me saciavam,
Das mãos daqueles que esbofeteavam,
Das bocas que não beijavam.
Dos seios que não amamentavam,
Das cabeças que minha cabeça
Desejavam.
Dos corpos que meu corpo açoitava,
Dos narizes daquele que de meu cheiro
Mal cheiravam.
Fui roubado.
Que roubem todos os órgãos,
Que furtem todos os sentidos,
Que escondem os cadáveres mais
Mortos,
Que descubram os cadáveres mais
Vivos.
Mas não roubem o meu juízo,
Nem destruam meu dente siso,
Aquilo que mais preciso.
Busquem-nos mais profundo
Abismo que ainda respiro:
Teu mar,
Tua montanha,
Tuas estrelas,
Teu riso...
 
 
 
 
 
 

 
Celso Custódio
Enviado por Celso Custódio em 27/06/2018
Reeditado em 19/08/2019
Código do texto: T6375318
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