Libertação
Um dia fui uma flor
Que sonhava em repassar seu amor
Ventos, chuvas e secas
Nada impedia meu desabrochar
Pois meu perfume sempre quis espalhar
Você chegou, com intenção de me cultivar...
... e eu apenas queria espalhar e aproveitar minha fragrância.
Muitas outras flores me apreciaram, dançaram, choraram
Sentiram e espalharam o que guardava
Enganava-me cada vez mais
Que esse sonho pudesse ser a melhor escolha
Para aproveitar quem sou e como quero ser sentido
Por fim, você me cuidou
Não me dei conta, mas quando percebi
Eu estava hipnotizada por você ali
Os ventos, as chuvas e as secas
Nada me impedia de o respirar
Você foi meu lar
Desabrochei completamente
Cada pólen em mim tomou coragem de se espalhar
E por um momento fomos uma única flor ardente pelo ar
Passado o dia, você estava fria
Silêncio
Indiferença
Você secou todas minhas pétalas
Meu pólen congelou
De repente foi como se o vento, a seca e a chuva tivessem me derrotado
A maré interior me afogava e me secava
Hoje, sou um cacto
Que seu sonho limita-se
Espinhos crescem e espetam quem deseja se aproximar
Minha dura casca não permite sentir, mas promete me aconchegar
Sei que mesmo na aridez uma flor pode surgir
Destemida, pode sentir o vento, a seca e a chuva
Entretanto, agora sou apenas esse cacto
Procurando um oásis para se encontrar
E não sentir mais seu aroma que murchou minha essência