Libertação

Um dia fui uma flor

Que sonhava em repassar seu amor

Ventos, chuvas e secas

Nada impedia meu desabrochar

Pois meu perfume sempre quis espalhar

Você chegou, com intenção de me cultivar...

... e eu apenas queria espalhar e aproveitar minha fragrância.

Muitas outras flores me apreciaram, dançaram, choraram

Sentiram e espalharam o que guardava

Enganava-me cada vez mais

Que esse sonho pudesse ser a melhor escolha

Para aproveitar quem sou e como quero ser sentido

Por fim, você me cuidou

Não me dei conta, mas quando percebi

Eu estava hipnotizada por você ali

Os ventos, as chuvas e as secas

Nada me impedia de o respirar

Você foi meu lar

Desabrochei completamente

Cada pólen em mim tomou coragem de se espalhar

E por um momento fomos uma única flor ardente pelo ar

Passado o dia, você estava fria

Silêncio

Indiferença

Você secou todas minhas pétalas

Meu pólen congelou

De repente foi como se o vento, a seca e a chuva tivessem me derrotado

A maré interior me afogava e me secava

Hoje, sou um cacto

Que seu sonho limita-se

Espinhos crescem e espetam quem deseja se aproximar

Minha dura casca não permite sentir, mas promete me aconchegar

Sei que mesmo na aridez uma flor pode surgir

Destemida, pode sentir o vento, a seca e a chuva

Entretanto, agora sou apenas esse cacto

Procurando um oásis para se encontrar

E não sentir mais seu aroma que murchou minha essência

Gabriel Calgaro
Enviado por Gabriel Calgaro em 15/06/2018
Código do texto: T6365071
Classificação de conteúdo: seguro