Vê como, coração, àqueles anos

Vê como, coração, àqueles anos

nós éramos dois doidos solitários,

convivas de pavores necessários,

prevendo cem destinos insulanos

os quais nos eram todos inumanos,

e sonhávamos juntos casamento.

Éramos miseráveis cem por cento

querendo uma mulher que nos amasse

mesmo nós sendo a pena em própria face.

Ninguém nos desejou por um momento...

Serpentes concederam esperança

com peçonha, porém com companhia...

Tomamos do veneno que ruía

nossas almas, então pura criança:

convulcionamos crentes de ser dança

do amor sofrer minuto após minuto,

dentada após dentada, como um tributo

em troca do direito de existir,

ser notado, poder ficar ali,

não ter mais de encarar o velho escuro.

Então, meu coração, aquela moça,

vendo-nos aos pedaços e aos chorinhos,

nos disse: "Ficareis não mais sozinhos"

e mergulhou por nós à funda poça,

e removeu de nós toda a peçonha,

e, curados, ficou esponsalmente.

Beijou-nos a feição então dormente,

mas que logo aqueceu-se como fogo,

limpou de nossa pele o musgo e o lodo

e nos deu seu olhar resplandecente.

Vê agora, amigo, essa grande sorte

que é ter uma parceira de verdade

que nos vem, carinhosa, na bondade

para abraçar-nos linda, ser suporte,

e nos dizer contente: "Até a morte."

O sonho finalmente foi ouvido,

seremos vencedores, um marido,

um marido de esposa satisfeita,

porque será a atenção nela perfeita,

na mulher por quem temos existido.

Sim, querido e pulsante coração!

Sim! A felicidade foi achada!

Resta amar como um tudo que foi nada

e sabe disso a grande dimensão!

Dever-lhe eternamente a gratidão

a alguém que nos tirou do desespero

ficando para amar-nos com cuidado,

havendo alguém agora ao nosso lado!

Mulher!

Por ti inexiste, mulher, exagero!

10/6/2018

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 10/06/2018
Reeditado em 17/06/2018
Código do texto: T6360618
Classificação de conteúdo: seguro