Imóvel
Imóvel.
Ao redor, o caos.
Posso sentir o pulsar dessa terra vermelha, sob meus pés descalços.
Os grânulos tingiram arabescos em minha pele branca.
Pés de princesa, tatuagem de henna.
Fito meus pés, em silêncio.
Imóvel.
Guardo segredos.
Gosto de tê-los...
Os segredos esperam quem os possa libertar.
Esperam, nesses frascos minúsculos e transparentes
que carrego na pulseira de águas marinhas que adorna meu braço...
A chave para libertá-los é o amor sincero...
Adormecidos, esperam...
Imóvel.
Meus mistérios abrigam-se no exíguo espaço
entre a dimensão da luz e o imaginário do poeta...
Ali vicejam, alimentando-se do luar que desce sobre a mata
e bebendo a brisa que lambe meus cabelos e a barra do meu vestido...
Libertos, segredos e mistérios hão de inventar o amor
que nascerá das flores que dessa terra brotam...
Por sobre a terra, leito de pura energia,
fecundarão os sonhos e tomarão posse dos amanhãs,
céus de estrelas sobre a terra vermelha, meu ventre,
minha sina, minha vida, meu alento...
Imóvel.
Apenas o contato da terra, sob meus pés...
Lá fora, o caos.
No meu universo, vida em abundância.