Era uma noite simples de outono,
   noite fria como tantas outras,
   com as casas devoradas ao silêncio
   A anunciação e a exigência,
   uma força a crispar do fogo à palavra
 
   Gostava de ver como os dedos iam
   à frente de tudo :
   como orvalhos à seda do toque,
   como espantos diante dos olhos
   - candeias a queimar desde a nascente
   até o flagelo cortante à espinha dorsal
 
   Lá fora
   as criaturas se aproximam umas das outras,
   se falam, se tocam,
   cosem as saudades pesadas,
   acendem verões interiores, fortalecem os sentidos da carne
 
   E cá dentro começo a escrever
   Sou tomada de aromas luminosos,
   uma recente lembrança luminosa
   Folhas e folhas que se abrem
   à minuciosa obscuridade da noite
 
   Regresso-te. O tempo, talvez uma crença
   que devesse aprender,
   agora intimamente estático
   Cala-me a tua presença
   Sob ela a minha terra toda pulsa, sabes-me a sangue,
   e eu ardo à claridade inexplicável
   dessa memória que se faz eterna .








DENISE MATOS
Enviado por DENISE MATOS em 06/06/2018
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