Era uma noite simples de outono,
noite fria como tantas outras,
com as casas devoradas ao silêncio
A anunciação e a exigência,
uma força a crispar do fogo à palavra
Gostava de ver como os dedos iam
à frente de tudo :
como orvalhos à seda do toque,
como espantos diante dos olhos
- candeias a queimar desde a nascente
até o flagelo cortante à espinha dorsal
Lá fora
as criaturas se aproximam umas das outras,
se falam, se tocam,
cosem as saudades pesadas,
acendem verões interiores, fortalecem os sentidos da carne
E cá dentro começo a escrever
Sou tomada de aromas luminosos,
uma recente lembrança luminosa
Folhas e folhas que se abrem
à minuciosa obscuridade da noite
Regresso-te. O tempo, talvez uma crença
que devesse aprender,
agora intimamente estático
Cala-me a tua presença
Sob ela a minha terra toda pulsa, sabes-me a sangue,
e eu ardo à claridade inexplicável
dessa memória que se faz eterna .