Ontem pensei que não te amava. Hoje não.
Ontem que você não estava e eu não tinha nada para escrever.
Ontem que eu não sabia se voltaríamos a nos ver.
Ontem que eu assistia televisão mesmo sem ter ideia do que se tratava o filme
– e você não estava lá pra me explicar.
Ontem que cheguei em casa à noite e não sabia que diabos fazer no outro dia
– e você não estava pra me ajudar a lembrar.
Ontem estive pensando, meu bem:
Quantos lugares deixamos de visitar?
Quantos poemas ficaram nos esperando e nunca chegamos?
Quantas garrafas de qualquer coisa que não bebemos
ficaram guardadas na estante morrendo por ganas de beijar nossas gargantas?
Quantos sorrisos — sem motivos — que não tivemos deixaram
se apagar o brilho em nossos olhos?
Ontem estive pensando, meu bem:
E pensei que não havia mais nada para pensar;
que o destino já havia cumprido seu destino...e só.
Ontem pensei que não iria voltar a te ver em tudo o que escrevo,
porque o tempo passa e o amor se acaba
— e nem todo mundo sabe disso porque ninguém gosta de ler as letras miúdas, muito menos em contratos de amor.
ontem senti tua falta ao meu lado
porque, desde a tua partida,
me sobra metade da cama
e me falta metade da vida.
Ontem pensei que não te amava. Hoje não, ontem.
E menos mal que foi só ontem,
porque hoje tudo que esperei foi que tocasse o telefone
e eu escutasse tua voz. Porque isso, meu bem,
é única coisa que eu precisaria escutar.