Diz
A casa está sem telhado e sem portas.
A árvore que havia, secou
e os abutres que vão e regressam,
pousam no desespero.
Quero correr mas vou secando por dentro
e tal como a árvore e como os pássaros de antes,
fico negro de silêncio.
Nele sou eu a casa devastada,
o muro derrubado,
a vala onde estou contigo
já morto e tão vivo,
já evocação e sem lembrança,
já velho e ainda criança,
já em ti fresca e apodrecida a minha semente.
Diz-me que é sonho,
retrato do incerto,
voz inconsequente do vinho que não bebi.