Ciranda
Separo-te da noite
e acendo nas mãos trémulas o desejo.
Crescem bagas que farão gentil o acre mosto,
forte a essência por onde estreitos
nos exaltamos de vigor e gosto
e nos bebemos até sentir viscoso
correr um rio de sangue e voz,
tumulto de línguas na sede estrangeira.
Separo-te da noite e em nós é de carne a lua,
de carne o céu,
a vontade nua de morrer na foz doce
que amarga a profundidade.
Separo-te de mim
e és outra vez noite na cidade.