Ciranda

Separo-te da noite

e acendo nas mãos trémulas o desejo.

Crescem bagas que farão gentil o acre mosto,

forte a essência por onde estreitos

nos exaltamos de vigor e gosto

e nos bebemos até sentir viscoso

correr um rio de sangue e voz,

tumulto de línguas na sede estrangeira.

Separo-te da noite e em nós é de carne a lua,

de carne o céu,

a vontade nua de morrer na foz doce

que amarga a profundidade.

Separo-te de mim

e és outra vez noite na cidade.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 14/05/2018
Reeditado em 16/05/2018
Código do texto: T6336445
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