Alaranjado

- Você me acha louquinha? – pergunta olhando para seu próprio tênis.

- Se você é louquinha? – ele se aproxima e senta ao seu lado na grama. – Você é totalmente louca! – exclama lhe arrancando um sorriso ao cutucar sua barriga. – Louquinha de pedra, piradinha na maionese!

- Mas – ela dá uma pausa e suspira. – Você ainda me considera como sua irmã? – pergunta olhando nos olhos negros do garoto.

- A melhor irmã do mundo – responde serenamente também olhando fundo nos olhos dela.

Os dois ficam em silêncio por algum tempo, sentados juntos no topo de uma colina não muito alta, vendo o pôr do sol ao longe, enquanto sentem a brisa do vento balançar suas blusas e cabelos. A garota olha para cima, para o firmamento. Vê gaivotas voando e suspira fundo. Seu coração palpita forte, tranquiliza e então ela inspira e expira devagar.

- É lindo. – diz ele ainda olhando o pôr.

- O voar das gaivotas? – pergunta o olhando.

- Não. – ele sorri de leve. – Seu sentimento, idiota! – responde puxando uma mexa do cabelo cacheado dela.

Ela, novamente, volta a olhá-lo fundo nos olhos, sem muitas reações e com as bochechas coradas. “É sério mesmo que ele havia falado sobre, ou percebido tudo?” – perguntou a si mesma. “Não, não era possível! Eu jamais lhe disse algo diretamente” – pensou.

- Ei... – disse ele passando a mão na frente dos olhos dela. A mesma assustou-se.

- Ahm?! – ela sacode a cabeça. – Des... desculpa, eu fiquei pensativa. – diz tentando não olhar nos olhos dele.

- Deu pra ver! – responde se jogando um pouco para trás.

- Porque você acha o meu sentimento bonito? – pergunta um pouco tímida, ainda olhando os próprios tênis.

- Na real, eu não sei explicar exatamente o porquê. Eu só acho – responde. – Ninguém nunca fez pra mim o que tu faz, então deve ter algo relacionado.

- Amor – ela sussurra baixinho.

- O quê? – ele pergunta se inclinando para frente.

- Calor! – ela responde rápido. – Tá mó calor aqui, não acha? – pergunta sacudindo a blusa.

O garoto começa a gargalhar e isso a deixa muito sem graça. “Minha nossa! Será que ele ouviu?” – pergunta a si mesma, enquanto ele põe as mãos na barriga demonstrando dor pelo excesso de risadas. As lágrimas dela começam a esquentar seus olhos fazendo com que seu corpo fique imóvel. E sem que pudesse impedir, elas rolam por seu rosto.

Ele observou a cena rapidamente. E rapidamente a abraçou sentindo a pulsação de seu coração entrar em contra passo. Fechou os olhos enquanto acariciava suas costas. E com isso, a garota perdeu aos poucos a vergonha e fez o que sempre almejou fazer: abraçar aquele que tanto ama. Ela suspirou fundo, um suspiro de alivio e se acomodou naquele abraço.

Não sabia exatamente se o garoto sabia sobre seus reais sentimentos. Também não soube o motivo das risadas. Nem se ele havia escutado sussurrar. Porém, de uma coisa tinha certeza absoluta; que jamais amou alguém como amou este garoto. Jamais cuidou de alguém tanto como cuidou dele. E apesar de tudo, ela não conseguia sentir raiva, odiar, ou algo do tipo. E percebe que realmente aprendeu o que é o amor. Como funciona e os reais sentimentos e sabores que ele trás.

O céu escasso de nuvens, tomado pelo tom alaranjado do pôr, pairou sob eles. E trouxe consigo as primeiras estrelas e o brilho de Vênus entre um dos morros na lonjura. Ela o apertou, mas não muito forte, apenas com o intuito de “chegue para mais perto de mim”. Ainda com os olhos fechados e algumas lágrimas escorrendo por seu rosto, disse sussurrando: “eu amo você”.

E teve ali sua mais sincera e simples declaração... Sob o alaranjado.