Vales de solidão impiedosa,
Vales de solidão impiedosa,
abismos de vazio que corta a pele,
foi donde me tiraste, graciosa,
mas repeti: "Senhora me flagele!"
Houve que, destruído à venenosa
história que o passado não digere,
tornei-me suicida, e a cuidadosa
pensou que é qualquer tolo que a merece.
Foi Deus do amor que a trouxe de tesouro
como quem joga pérolas a porco.
Mas se essa chance sacra tive em vida,
chance pela qual rei se faz de inseto,
não me permito que a alma corrompida
mate o futuro límpido que quero.
Porque apesar da dor da má ferida
mantenho uma centelha a fogo certo
mandando -- para ti, santa heroína,
não há desculpa ao medo nem do inferno.
Por ti, todos os traumas carregados
não são desculpa aos modos estragados.
És doce amor: perene na bondade,
constante na presença e paciência,
a ponto de me ver fazendo idade
sem zangar-se com minha atroz demência.
Aprenderei por ti, puro milagre,
a me purificar na quintessência
para ser-te mais forte em hombridade
no lugar deste poço de carência.
Aprenderei, pois, bela como fada,
fazes um pobre sonhar em ter-te amada.