Sem título
Vou rasgar-te tão por dentro que vais ter preferido morrer
Inventarei em ti a feitiçaria que nasce do meu sono
e percorrerei todos os teus atalhos
até que me sinta perdida.
Ter-me-ás em todos os teus poros,
correndo solta no teu sangue
e fazendo ninho de inverno no teu corpo
se não foges agora.
À frente de cada um dos teus passos
vais tropeçar sempre e sempre no meu rosto.
Queria eu fugir depressa,
tão depressa que nem soubesses que por aqui estive,
soltar-me nas chuvas
e espalhar em cada tempo o meu tempo desfeito em pétalas,
devagar,
como se o próprio tempo não corresse inteiro atrás de mim,
como se o teu corpo não ficasse cada vez mais perto.
Tenho pressa de fugir-te,
de deixar de ser tão cheia.
Não sou de mim desde que te conheço
ou só agora veio o medo deixar-me atados os sentidos?
Tenho pressa de sair
de não ir por onde andas,
mas devagar me correm as mãos tão invadidas ainda do teu nome.
Não sei que possuis que me deixa assim tão indefesa.
Que tens tu que não note em mais ninguém?
Tenho pressa de não ser angústia,
mas em ti me encontro presa
como que estando por detrás do espelho onde te olhas de manhã.
Tenho pressa de não ser saudade,
mas celebro ainda o teu nome
e rio.