AVENIDA PRINCIPAL
Ela se jogou do vigésimo quarto andar...
Veio caindo de braços abertos,
como a um pássaro que voa.
Quando passou por mim,
na janela do meu apartamento,
no décimo primeiro andar,
deu-me um longo beijo de despedida,
e com um sorriso disfarçado,
me acenou sua mão, num adeus.
Tentei agarrá-la fortemente pelos braços.
Gritei muito por socorrê-la,
na tentativa de evitar sua queda.
Mas, ela, bruscamente, desprendeu se de mim,
e, continuou seu trajeto de decadência,
até que foi se desfazer,
bem no meio, da avenida principal.
Ainda aos prantos, corri ao seu encontro,
mas já era demasiadamente tarde.
Pois todos os seus encantos de menina,
já lhe haviam sido arrancados ou vendidos,
aos que ali, chegaram primeiro.
E nenhum pedacinho se quer,
de seu exuberante corpo, eu pude conseguir.
E por mais que eu a implorasse,
ela sempre me respondia,
de coração duro e decidida.
-Vá embora, vê se não me cansa.
Tudo que eu quero nesta vida, eu tenho.
Não insista, você pra me já era.
E foi ali mesmo, na avenida principal,
que eu sepultei, meu pobre coração,
juntamente com todo o amor,
que eu havia guardado, só para ela.
Nova Serrana, 17 de Outubro de 2004.