Pranto silencioso
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---Às minhas Empregadas,
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Estremeço às fanfarras das panelas
Tempero-me de sal, fel e vinagre o dia inteiro,
Esmoreço a lavar os vidros das janelas
E é sempre assim, dum janeiro a outro janeiro
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- E agora é só mais uma aspiradela
- Mais um jeitinho às camas, por favor,
que o bebé fez mais uma mijadela
- E limpe aquele armário, tem bolor
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E eu - que nasci para outras cavalgadas
Não tive nem sorte, nem estudos, nem direito
de vir a ser uma senhora como elas
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- Que vão às suas vidas! E tirem bom proveito!
Enquanto eu, de pele gretada, e unhas enlutadas,
enlouqueço a dar suporte aos sonhos delas
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© Myriam Jubilot de Carvalho
7 de Março de 1984
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Este poema figura no meu livro "O Livro das Actas",
publicado em Cadernos vuJonga, 2017, página 63
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