DOMINGO VESPERTINO

Era uma tarde costumeira:

A solidão do domingo,

Sem sinos, sem cânticos.

Há tempo não vou à missa.

Da sala vozes da televisão

Anunciando um comovente encontro

E bailarinas em forma de pixels

Encantavam-me.

E a minha filha desesperadamente

Queria me acompanhar no Cooper vespertino.

Mas ela queria ir de bike.

Era uma necessidade aguda,

Tinha que sair pedalando.

Mas ela nem sabia que o desuso

Tinha murchado os pneus.

De repente bicicleta na varanda

E o instrumento pneumático

Devolvia a dureza essencial ao movimento.

Agora era só ciclicamente pedalar

E buscar o desafio de permanecer

Sobre aquelas duas rodas.

Tudo isso era feito em segundos.

Em instantes me pareou alegremente

E me fez entender a sua urgência,

Como se flutuasse na sua alegria

Tensa, determinada e feliz.

- Pai! Pai! Já sei andar de bike com uma só mão.

E passou por mim...

Passando também a emoção

E me fazendo flutuar.

Fui cúmplice da urgência daquela necessidade

Ao entardecer do domingo.