DEFINIÇÃO DO INDEFINÍVEL

I

Sua carne apenas se sonha

De ósculos e amplexos

Renúncias e doação.

Mancha rubra a arder na

Memória constante do que virá

Após tudo por ele feito e vivido.

Sua carne apenas se sonha:

Sua carne, talvez sejas, de sonho apenas.

II

Erro se o digo na

Mesma língua dos homens.

O limito se ouso

Em versos traduzi-lo.

O próprio mito de Eros vindo

Arraigado espectro à psique humana.

Substantivo denso e

Vão ao ecoar

Que convertido em verbo

Ganha forma

Movimento

E gesto.

Práxis do amor:

Amar.

III

Erótico? Platônico? Ágape? Philia? Storge?

Será o amor imperfeito e sujeito ao tempo?

Que escritura o transcreve? Que tarde o desperta?

Que noite o aparta?

Que diriam os filósofos?

Que versariam os poetas? Que fariam

Os amadores? Que sabem os amantes?

IV

Mais impreciso que o nojo

Mais efusivo que o ódio

Mais espesso que a calma

Mais aliciante que o medo

És indecifrável

Ao perfurar com agudez o asfalto

Perturbando o sono

Dissolvenfo o tédio

Destilando o caos

Erguendo-se incerto

E dividido em

Risos raios aromas tardes

Matérias finitas e portanto amáveis.

Nossos mortos todos:

Amores invioláveis.

V

Mas sua matéria

Jamais pecisamente descrita

Foi no ápice de sua presença

Tampouco no momento

Em que despedia-se como quem

Nunca se apresentou.

Quando sente-se dor, alegria,

Tristeza, afeição, melancolia

Sentimentos vis, enfim

É fácil sabe-los.

                          Mas não o amor.

Nunca estamos certos

De que aquilo que estamos a fazer

Trata-se do glorioso ato de amar.

E cogita-se

Até mesmo a sua

Inexistência.

Mas para o sanar das dúvidas

Ele revela tal complexidade

Análoga a de um deus.

Algo do qual não podemos

Compreender plenamente

Deliberadamente.

VI

Só resta-nos crer no amor!

Denotando sua existência a partir

Da nossa fé de que o mundo

Não é gerido apenas por relações

De acordos envolvendo interesses

Ambiciosos e primevos.

E que nossas carências carnais

Não nos resumem enquanto

Meros homo sapiens perplexos.

VII

Só resta-nos amar

Amar a própria ideia de amor

Que é de fato

O que nos move

Pelos meandros de uma vida

Suja e burocrática com seu

Caráter irresoluto que o faz

Tão competente em nos unir 

Nessa atípica comunhão

Que extrapola continentes e

Derruba os muros erguidos

Por homens

Que ainda

O desconhecem.

HenriqueBazzí
Enviado por HenriqueBazzí em 04/04/2018
Reeditado em 14/06/2018
Código do texto: T6299173
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.