MEIAS E SAPATOS
No relógio da sala,
meia noite marcava,
por entre as sombras da meia-luz,
refletida sobra a meia parede
que dividia em dois, os ambientes.
Sobre a mesa de centro da sala,
flores no jarro se abraçavam
meio mortas, meio tortas.
Meio murchas e meio sem vidas.
Ao lado das flores sonolentas,
duas meia-entradas de cinema
para o filme: “ NOITE DAS TORMENTAS ”.
Com algumas tristes cenas
onde se via em nosso quarto,
espalhadas entre seus sapatos,
suas meias em variadas cores,
mistas de mágoas e rancores.
Sobre nossa cama, outras tantas meias...
Meias grosseiras, meias de lã.
Meias finas, caras e luxuosas.
Meias pobres, desgastadas e surradas.
Meias transparentes e da cor da pele negra.
Meias sujas, suadas e rasgadas.
Meias-calça, meias compridas.
E você a meio palmo de mim,
nunca teve olhos para mim.
Nunca voltou seu olhar em minha direção.
E sem poder me ver a seu lado,
você foi se dividindo, entre meias e sapatos,
sem nunca parar para pensar,
que nossas vidas iam se dividindo,
entre uma meia fina e rara,
e um sapato granfino e caro.
Nova Serrana (MG), 08 de fevereiro de 2008.