Poeminha de amor
O amor não amealha, ou retém
Antes mesmo, em face ao maior suplício
Não nega, se entrega, dá tudo que tem
Pois, inda que na penúria, é esse seu ofício
Ele sempre se dá, não inexorável
Busca estar, também, no coração
Do insensível, e tolo, praticante instável
Transformando a inerte alma na escuridão.
Ele grita, chora, simplesmente ama
Seu dilema é a indiferença fria
Que alojada no corpo em cama
A morte aos poucos, fria solidão, cria
Mas, de amor não se morre
Se bem que morte apreciável seria
De tanto se preencher dele, socorre
Tanto quanto, vazia dele, estaria.
Mas que dizer ainda desta chama
Que n’alma inflama o maior bem querer
Enquanto a outros, embora distantes, ama
Preferindo, resignado, silenciosamente sofrer?