Nus

Chegas como uma parte de mim.

Vem contigo a aragem, o fumo, a água da nascente

e todo o teu corpo diz de saudades, vontades, inclemências.

Beijas-me e a minha é agora a tua boca

e falo nela salivas, fogueiras, vidas, canseiras.

Há uma guerra surda sob a pele e já nos reconhecemos,

delicadezas, dores finas, o agudo gume das unhas.

Vem, dá-me de ti riso e corpo,

montanha, furnas, relva doce a arrumar o caminho das luzes.

Quero ir na onda gigante, quero cair da tua boca hiante,

quero ver em ti o meu sangue a avermelhar de fúria

todas as palavras que já não entendo, não ouço.

São de moer e mastigar, de bater.

E a pele grita devassidão e goza mansa a morte que chega

se já perdidos somos mármore ainda quente,

jacente, evocação do tempo em que vestidos nos sabemos nus.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 13/03/2018
Reeditado em 13/03/2018
Código do texto: T6278979
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