1945

Procuro a ternura nos escombros

dos olhos ensanguentados pelos

gritos que ensurdecem a saudade

com sangue que as próprias balas

não veem assassinar a respiração.

Ao longe escuto um pássaro no bosque

entre os inúmeros gritos de alegria.

De joelhos sinto a carícia molhada da terra,

que durante todos estes anos manteve

a juventude suspensa a fugidia

da terra onde só vejo corpos estendidos.

Procuro-te no pensamento como um fruto

suspenso e grito teu nome bem alto!

Lembro-me da mesa onde ceávamos,

do “Bom dia amor” soprado no meu ouvido,

onde também queria que chegasse

os gemidos de prazer nas manhãs de inverno.

Eu sei se há diferenças ….se ainda me ama,

quero saber quando a apertar contra o peito

ávida para matar a saudade de uma guerra louca.

Faz dois anos que não me escreve!

Meus dedos estão sujos de amortalhar tabaco,

os dentes estragados por roer a solidão,

e o vento assobia ao passar por minha magreza.

Porém eu procuro-te!

Antes que o medo de te perder se aproxime…

Nas ruas…no jardim…na mesa…na cama…

com amor e muita saudade!

Procuro-te….nas memórias de 1945.

Febo
Enviado por Febo em 09/03/2018
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