INVENTÁRIO: RECADO*

* Tinha dezenove anos e muuuuuita petulância. Com um namorico por um fio, coloquei no mural da escola dois poemas de Vinícius (Ausência e Soneto de Fidelidade) e um meu. E olha o tamanho da ousadia e da confusão: o namorado sumiu. Desconfio que foi a primeira pessoa a dar crédito ao que escrevi...

Talvez a única...

Recado

Ou A pretensão de “completar” Vinícius

Não deixarei que “morra em mim o desejo de amar os

teus olhos que são doces”,

Mas sei que “nada te poderei dar senão a

mágoa de me veres” sumindo sempre, embora

“tua presença me seja como a luz e a vida”

Fujo de ti porque a necessidade de me encontrar é mais urgente

que o meu desejo de estar contigo.

Fujo porque meu momento é de lutar por liberdade,

porque sei que mereço um amor sem amarras, sem cobranças, sem a posse anunciada.

“E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto

e em minha voz a tua voz”, embora a mim coube a iniciativa da partida.

Não fique triste. “Tu irás e encostarás a tua face em outra face.”

Novas paixões nos aguardam e sempre pode

se “dizer do amor ( que tive)

Que não seja imortal posto que é chama,

mas que seja Infinito enquanto dure.”

Foi bom e durou o quanto podia durar.

A vida continua.