despicar

eu sonhei com você na noite passada...

e eu caí da cama duas vezes...

você podia me levitar...

eu te montei e voamos...

você era como uma borboleta azul...

.

.

segurei forte sua mão diamantada

aquela boca inabalada não tremia

uma luz de lazer azul na sua boca

leve como dente-de-leão me levou

num refúgio de sua cristalina alma

deitei em plumas macias de luzes

na macies de seu canto elevei-me

mergulhei nas chamas de tua pele

seus lábios eram orvalho cristalino

sem ter cede não parava de tomar

.

.

enchi meu olhos com água dourada...

com cinto na testa pro escalpe não cair,

voávamos rápidos até os olhos sumirem...

um sinto de bilhões de olhos despicavam...

seu corpo todo fosforescia...

suas asas fosforescentes fosforesciam...

um estrondo galáctico, nuvem cintilavam,

venciam todas barreiras as mais altas

.

.

num momento perdia o que encontrava,

por um momento meu eu me tomava...

sombras passadas me tateavam...

o véu rasgava...

o véu, permanentemente, rasgando...

.

.

sussurrei em seu ouvido de pelúcia:

- suas íris, poderosas íris...

- suas meninas são musas...

- seus olhos têm poder...

- sim; seu poder é poder dominar.

.

.

quando um som metálico,

estagnado temporalmente,

fez um pedido, uma pergunta:

e quanto ao mundo?

vagando, vaga-lumes se apagando...

pra não mais, aqui, brilhar.

Jorge Cunha
Enviado por Jorge Cunha em 26/02/2018
Reeditado em 26/02/2018
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