Asas de Graúna...

Finalmente acabou o horário de verão
Ele acorda meio zonzo
Ao seu lado um lugar vazio no colchão
Levanta-se e caminha até a janela
Busca pela cumplicidade dos olhos dela
Mas tudo parece silencioso demais
Vem...vem...romãntica moça de Batatais
Sentada ali na beira do rio
Com os pés balançando na correnteza
Como ele seu coração também sente frio
Mas o que é amar
Senão mergulhar num rio de incertezas
Então depois de uma ducha fria
E uma xícara de café fumegante
Ele se olha no espelho com amargor
E pensa por um instante
Se eu tivesse 20 anos há menos
Poderia viver esse amor
Desce correndo por um estreito trio
E a cena que vê provoca um arrepio
Aquela moça nadando com as capivaras
E ele que mulheres já teve várias
Totalmente inerte diante do inusitado
Animais cada vez mais estão em extinção
E a essa altura da vida
Descobrir que é na simplicidade
Que esta a verdadeira sedução
Sem tirar uma peça de roupa
A moça veste um sorriso na sua boca
E bóia como anjo em procissão
Mostrando que no peito de um homem maduro
Também pode bater um descompassado coração
Só restou a ele pular no rio profundo
E ouvir dos lábios dela
Tenho pelo senhor o maior amor do mundo
Seus cabelos negros como Asas de Graúna
Enrodilhando todo naquele velho moço
Sem qualquer embaraço
O amor não tem idade
Se nele ainda pulsar aquela veia no pescoço
Cada vez que a toma nos braços
Mentiu toda vez que jurou ser fiel
Mas como mentir
A dois centímetros dos lábios de Raquel
Buscando palavras soltas na antiguidade
Ia falar das benêsses da maturidade
Mas ela o calou com um poema
Onde a moça se fez papiro
E o velho moço se fez a pena
E ali na beira do rio
Um completando o outro
O velho moço e a morena...





                                                                
Raquel Cinderela as Avessas
Enviado por Raquel Cinderela as Avessas em 18/02/2018
Reeditado em 18/02/2018
Código do texto: T6257234
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