RETIRANTE
Queria ir-me embora para América,
Que ouvi tantas vezes falar.
Terra de astros e estrelas.
Sairei de casa pela manhã,
Ainda no alvorecer
Da minha rua sem paz,
Com portas e janelas fechadas
Ninguém poderá me ver
Acordadas, verei só duas mulheres e um homem,
Tranqüilos me acenando lentamente.
Creio que meu corpo sozinho,
Irá me acompanhar.
Meu espírito deverá estar vagando
Entre os amigos no Rio.
Ninguém eu deixarei em lágrimas
Mamãe foi morar com Deus.
E a mulher que outrora era minha esposa,
Agora é apenas mãe de meus dois filhos.
Partirei-me sozinho,
Levando no peito saudade.
Mas feliz com a própria vida
Que para mim não pedi, cheia de dor
Mas não arruinei para viver.
Verei amontoado de cidades
Ficando para trás
E na frente se abrirem campos verdejantes,
Com flores e vaga-lumes.
Como ilusão de grandeza
Que cintilam no plano superior.
Num alvo qualquer do dia,
Uma brisa me invadirá.
Sentirei o clamor morno
Do sol que vem do oceano.
Chegar-me-ão vozes infelizes,
Como a desejar me amargurar
Mas não virá mais a memória,
Para mim nada será surpresa.
Atravessarei luzente e plácido
Tolerante e subjetivo
Como uma folha morta num regato,
E quando, de um certo espaço
Vier-me a solicitação vaga,
Mas nem até logo lhe direi.
No abastado império americano,
Morrendo de saudade entrarei.