Desarranjo espiritual

Muito tempo se passou,

muito tudo se passou.

tanto nada restou.

as feridas que ecoavam

apenas a dor ecoou

as borboletas voavam

nada sobrou.

mas é sempre assim

todas as vezes é assim

sutil até chegar e ao chegar

ele mata depressa

o fim.

ele chega... em algum momento

de algum modo, rápido ou lento

ele vem, não há nada que impeça

a peça final que finaliza o fim, fazendo assim o próprio fim ter um fim.

há tempos não escrevo sobre amor

mas ainda tenho algo escrustrado em meio ao rancor que me sobra nas beiradas da consciência

me pergunto em qual ponto deixei de ser louco e me apaixonei.

ou ser louco é apaixonar-se? não sei

e não serei eu a responder

responder seria não prever o que iria ocorrer e me deixar percorrer por todos esses sentimentos.

que brigam vorazmente para sair

estou perdido agora em meio a tudo isso, mas mantenho em mente o objetivo final. terminar.

terminar o que?

não se põe um fim no sentimento...

mas tudo tem um fim...

rápido ou lento...

sedento, não por água, por sentir...

há tempos também não sinto... minto e brinco de sentir..

mas cansa mentir, e cansa cansar.

cansado e sedento.

entendo que há tempos não sou eu... sou mais que isso.

mero escritor de versos bonitos?

ou transcritor de sentimentos...

não quero ser eu, nem outra pessoa.

quero ser nós.

mas nós é tão distante quanto...

faltam-me palavras...

é um lamento, um escritor sem palavras é como um...

poema sem versos?

ou... como um eu sem um tu?

quebrado, sedento e cansado.

agora estou caminhando para o fim.

dessa escrita, pois sentimentos não se terminam.

nem se começam...

eles se são

com toda a força que se podem ser.

e se esvaem, tendendo ao fim, mas nunca o encontrando.

esquecidos ficam.

pelos cantos ficam.

ficam...

Yarjii
Enviado por Yarjii em 12/02/2018
Código do texto: T6251452
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