PLATÔNICO
O coração, deverás tolo
Pela atenção alheia suplica.
Mas tem pressa em seus passos
E fere-se na dura queda
Da expectativa.
Talvez, vivo em seu cárcere
Além das bodas de horror
Nada tenha aprendido.
No instante em que se prepara
O mais leve pouso
Sua ave errante
Tem permanecido.
Deglutindo a carne do amor
Descrente que a fome o visite
Precipitando a chegada tardia
Com a avidez de seu apetite.
Mas a vida é o que está sendo
Não o que poderia ter sido
Ainda que ante a paisagem escura
Saudoso, insista em amar perdido.
Pois o coração não disfarça
O quanto é exigente
Quando anseia o impossível.
E dispara alimentando-se
Apenas de raras especiarias:
Amores impossíveis, amigos finados,
Noites amanhecidas.
Sedento pelo desconhecido
Perde-se na cruel espera
De que uma entre outras portas lhe abra-se
- mas que fique
E n t r e a b e r t a.
E assim vai-se outra vez partido
Palpitando seu tango
cadenciado
Um tanto mais último
e comovido.
Levando somente a fome irrealizada
Por muito pensar
Que havia comido.