PLATÔNICO

O coração, deverás tolo

Pela atenção alheia suplica. 

Mas tem pressa em seus passos

E fere-se na dura queda

                                       Da expectativa.

Talvez, vivo em seu cárcere

Além das bodas de horror

Nada tenha aprendido.

No instante em que se prepara

O mais leve pouso

Sua ave errante

                      Tem permanecido.

          Deglutindo a carne do amor

          Descrente que a fome o visite

          Precipitando a chegada tardia

          Com a avidez de seu apetite.

Mas a vida é o que está sendo

               Não o que poderia ter sido

Ainda que ante a paisagem escura

Saudoso, insista em amar perdido.

Pois o coração não disfarça

O quanto é exigente

Quando anseia o impossível.

E dispara alimentando-se

Apenas de raras especiarias:

Amores impossíveis, amigos finados,

Noites amanhecidas.

Sedento pelo desconhecido

Perde-se na cruel espera

De que uma entre outras portas lhe abra-se

- mas que fique

                               E n t r e a b e r t a.

E assim vai-se outra vez partido

Palpitando seu tango

                                  cadenciado

Um tanto mais último

                                  e comovido.

Levando somente a fome irrealizada

Por muito pensar

Que havia comido.

HenriqueBazzí
Enviado por HenriqueBazzí em 08/02/2018
Código do texto: T6248483
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