À SOMBRA DOS CARVALHOS DE MÁLAGA
Hoje a saudade de nós abriu a janela que dá para o mundo
e me encolhi à sombra dos carvalhos ancestrais de Málaga.
De todas as cidades testemunhas da minha mágoa
só uma guarda a doce espera que me aflige.
Coberta de mistérios ainda virgens,
Málaga é toda Andaluzia e tem em mim raiz profunda
porque eu também sou antigo um navegador fenício.
*
Depois a lembrança de nós ardeu ainda mais triste
que o navegante em riste na proa sem o mar.
A saudade de nós assombra os carvalhos em Málaga.
Toda a terra está coberta por matagal.
*
Azinheiras, Sobreiros, Carvalhos,
Alfarrobeiras conhecidas como pão-de-João,
Figueira de Pitágoras ou do Egito.
Todas árvores confidentes que envelhecem juntas
das jovens criaturas que perambula na crosta enferrujada
em que meteram suas raízes.
Toda a terra está coberta por matagal.
*
Anotar nomes era brincadeira, colhíamos lentisco
como se Lentisco fosse.
Aroeira é o mesmo que alfostigueiro.
Em Málaga tudo cresce para o sol no meio das Palmas de Ventilador, dos Loendros, dos Medronheiros, das Murtas,
das Estevas e do Zimbro espinhosa.
Toda a terra está coberta por matagal.
*
Como se tivesse aberto a janela que dá para o mundo,
hoje senti a brisa sorrateira carregar-me
para o alto das copas e deixei-me levar junto
dos aromas do alecrim, do tomilho e da lavanda.
Mal equilibrado recordo as oliveiras selvagens
que estavam por toda parte e hoje são em menor número
que as áreas cultivadas de amendoeiras
porque toda a terra está coberta por matagal.
*
Lembro-me de termos traçado um itinerário
ligando o sul da França ao norte de Espanha.
Levaríamos do Mediterrâneo areia por toda parte.
Saltaríamos sobre o Atlântico na volta da península
e o regresso seria uma história cheia poesia
à sombra dos carvalhos daqui.
Mas você ficou em Málaga,
escolheu ficar à sombra dos carvalhos de lá.
A saudade comeu de nós a sombra
à sombra dos Carvalhos de Málaga.
*
Toda a terra está coberta por esse matagal,
inebriado regresso para dentro da saudade.
*
*
Baltazar