Migrante do amor
Pela manhã acordava, tomava o café e ia para o campo,
No pasto o gado parecia-me tristonho, o brilho do sol
Inspirava-me sonho de viver numa cidade de telhado
Transparente, sem paredes, mas de piso doirado,
Onde o amor fosse a meta de toda sua gente.
À tardinha, eu ainda na parte mais alta do campo
Delirava com brilho do sol poente, devagar a noite caia
Eu sentia a solidão me transportar para outro horizonte
Com saudade do antes, mas para um futuro melhor.
Cansado da labuta, voltava para casa, ligava o rádio
Confeccionado em madeira com frente doirada
Abria a janela e via os pirilampos piscando suas lanternas
Eterna era à vontade de ver um dia meu sonho consolidado.
De súbito embarquei nas asas do tempo e numa cidade
Cheguei, amei a rodoviária de paredes brancas, de luz
Fosforescente e negro piso, talvez granizo de minha
Existência quebrada em mil esperanças, eterna ilusão.
Pobre verso, a cidade com a qual sonhei é o inverso
De tudo que idealizei, mas sou feliz, vivo a razão
E a emoção, amo e sou amado, porque assim me aceitei.