Boca Negra
A lua espia da rua a casa de
fachada vermelha, onde na
porta lê-se "Boca Negra"
entre sem bater
sinta o prazer.
Estranha o movimento que
cessou, contrariando o entra
e sai de toda noite, que lhe
é tão peculiar.
Tenta ver pela fresta que não
resta a luz brilhante, o som
rimado que teima em silêncio.
Preocupada vê a moça da saia
justa curta, salto alto, blusa
branca, que chega à porta e
deposita flores.
Buquê de rosas negras e
singelo cartão que expressa
"eterna saudade - Boca Negra".
Levanta-se e caminha, ainda
olha para trás, pensa "aqui a
alegria já não mora" e passo
a passo afasta-se, já que esta
noite não vai trabalhar; o bar
fechou, Boca Negra, o poeta,
morreu...
A garçonete está desempregada,
a poesia órfã e a lua, muito triste,
vai dormir sem seu poeta amor...