Nascente
 
Não esquecerei o rio
onde fui gota pequenina.
Onde a vida se fez vida
pelo amor de outras vidas.
 
Oceanos que se amaram
e suas águas ajuntaram,
num espaço aconchegante,
um filete me tornaram.
 
Olho d’água que eclodiu
pelo amor de duas vidas,
para transformar-me rio,
e germinar em outras vidas.
 
Não esquecerei o rio
e nem tão pouco o olho d’água.
Nem do filete que escorreu
e pela relva caminhava.
 
Fui regato e fui riacho,
água fresca, cristalina,
desci serras e montanhas,
rolei pedras no caminho.
 
Provei dor nas travessias
e também tive alegrias.
Gota a gota eu ajuntava
nos afluente que encontrava.
 
Avolumando minhas águas,
escorrendo pela terra.
Germinando a semente,
verdejando as campinas,
para a vida ir em frente.
 
Ainda não sou oceano.
Sou pequena aprendiz,
e continuo a juntar águas,
sem me esquecer do rio,
e também do olho d’água.