Cais

hoje um coração se rompeu cansado

de ser barragem – a madrugada, submersa

ouve da correnteza cardíaca, perversa:

entende ser incapaz de contê-la

então beija!

beija o rio do seu corpo! beija

a coragem de ser teu diamante

e o riso largo do teu amante

e o banho de sangue

então transcende!

transcende a base, a mente, o fim

transcende tudo que foi tido instranscendível

se for seu o sangue desse banho – e que seja!

– que seja nossa a corrente feroz que nos leva

– que o coração incontido era o nosso

universo que conflui em outro, uma fera

de secreta cor, e na secreta cor espera,

absorta,

pelas nuvens e pela chuva

entre dois corpos vibrantes

(almas vivas – vidas errantes)

pelos mergulhos nos nossos corpos-rios de

portos que já foram tão distantes

e que hoje se eclodem, cansados

racham a linha, matam, rompem

incapazes de serem contidos

que o homem tornou-se homem.

BebêAzul
Enviado por BebêAzul em 05/01/2018
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