Cais
hoje um coração se rompeu cansado
de ser barragem – a madrugada, submersa
ouve da correnteza cardíaca, perversa:
entende ser incapaz de contê-la
então beija!
beija o rio do seu corpo! beija
a coragem de ser teu diamante
e o riso largo do teu amante
e o banho de sangue
então transcende!
transcende a base, a mente, o fim
transcende tudo que foi tido instranscendível
se for seu o sangue desse banho – e que seja!
– que seja nossa a corrente feroz que nos leva
– que o coração incontido era o nosso
universo que conflui em outro, uma fera
de secreta cor, e na secreta cor espera,
absorta,
pelas nuvens e pela chuva
entre dois corpos vibrantes
(almas vivas – vidas errantes)
pelos mergulhos nos nossos corpos-rios de
portos que já foram tão distantes
e que hoje se eclodem, cansados
racham a linha, matam, rompem
incapazes de serem contidos
que o homem tornou-se homem.