Travessia do amor

No caminho por onde eu passava

Havia um rio, cuja travessia

Era uma pinguela(*) de madeira

E corre-mão de bambu.

Minha mãe recomendava passar

Uma criança por vez e devagar

E advertia, cuidado, menino, não sacuda

O corpo que a pinguela pode quebrar!

Turva era a água do rio Santana

Que uma ou mais vezes por semana corria barrenta

Pelas fortes chuvas em suas cabeceiras

Vinha inundando tudo, levava casas, pontes

E bananeiras, a pinguela que pela lama

Ficava amarela, resistia às intempéries

À semana inteira.

Aos domingos minha mãe se juntava às lavadeiras

Enquanto eu, menino franzino, pulava

Por sobre as pedras escorregadias em malabarismo

Olhava o rodamoinho das águas e via o abismo

Que a vida inteira eu ia enfrentar.

A pinguela sobre o rio ainda existe e no mesmo lugar,

As casas e as pontes foram reconstruídas

As bananeiras morreram, renasceram e deram cachos

Assim como o meu amor que não se cansa de sonhar.

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(*) PINGUELA: Tronco de árvores colocado sobre os rios em algumas regiões de Minas Gerais, com varas de bambu nas laterais para travessia de pedestre de forma mais segura.

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R J Cardoso
Enviado por R J Cardoso em 24/08/2007
Reeditado em 24/08/2007
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