Travessia do amor
No caminho por onde eu passava
Havia um rio, cuja travessia
Era uma pinguela(*) de madeira
E corre-mão de bambu.
Minha mãe recomendava passar
Uma criança por vez e devagar
E advertia, cuidado, menino, não sacuda
O corpo que a pinguela pode quebrar!
Turva era a água do rio Santana
Que uma ou mais vezes por semana corria barrenta
Pelas fortes chuvas em suas cabeceiras
Vinha inundando tudo, levava casas, pontes
E bananeiras, a pinguela que pela lama
Ficava amarela, resistia às intempéries
À semana inteira.
Aos domingos minha mãe se juntava às lavadeiras
Enquanto eu, menino franzino, pulava
Por sobre as pedras escorregadias em malabarismo
Olhava o rodamoinho das águas e via o abismo
Que a vida inteira eu ia enfrentar.
A pinguela sobre o rio ainda existe e no mesmo lugar,
As casas e as pontes foram reconstruídas
As bananeiras morreram, renasceram e deram cachos
Assim como o meu amor que não se cansa de sonhar.
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(*) PINGUELA: Tronco de árvores colocado sobre os rios em algumas regiões de Minas Gerais, com varas de bambu nas laterais para travessia de pedestre de forma mais segura.
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