Mariana

Quando eu vi Mariana

Na sua forma mais linda

Não percebi que ainda

Estava cercada em liberdade

Eu, que bebia em sua fonte

Carrego escombros túrbidos

E os meus ombros úmidos

Se enfraquecem de saudade

O Sol que arde dentro de nós

Justifica essa sobrecarga

A foz, a voz, avós a sós

Inundam essa vida amarga

Se, no seu passo tímido, eu encontrei paixão

É porque seu ritmo me engana

Rio doce que me afoga de sal, hipertensão

A vida insiste em continuar, Mariana

No seu vestido terracota escuro

Eu escorri como dois rios inteiros

Sem direção, contramão

Ação de um empreiteiro

Você virou minha obra mais bela, Mariana

Construída pelo Pai, pela Mãe

Pelo Espírito Santo

Amém e amem

Destruiu hectares de acalanto

O que restou da nossa vida leve

Vida louca, vida breve?

Leva uma vida bela

Como uma chuva que escreve

Eu sem você, Mariana

É uma família sem casa

É uma cidade sem água

É uma nódoa sem mágoa

É um pescador sem o peixe

Agricultor sem o feixe

Um Índio sem tribo

Farinha sem trigo

Mariana foi um rio que passou em minha vida

Assim, efêmera, líquida

Não mais insípida, tampouco incolor

Inodora, e agora?

Mariana, você roubou o meu amor