Amanhãs de sol
Muitas foram as dores
que geraram tempos sem fim
de lágrimas escondidas, monólogos loucos,
desesperanças na ausência de porquês...
Por onde andaria
um ombro qualquer, amigo,
que juntasse comigo a força...
Onde estaria a ponte
que mostrasse
um caminho, um só que fosse,
para que eu pudesse ser
aquilo que de mim era solicitado.
Ah! Deus, tu bem o sabes...
Éramos apenas nós...
Quantos sorrisos, abraços, palavras de carinho
perderam-se no âmago da compaixão...
Quantas bengalas quebradas
ofereceram-se
para que eu pudesse ficar em pé,
como se possível isso fosse.
Quão distante ficou o cobertor para o meu frio
e quão fracos eram meus ombros para o tamanho da cruz...
Momentos de descrença?
Para com o ser humano, talvez,
na busca de olhares que entendessem o meu olhar,
de corações que penetrassem o meu
sem que fosse preciso falar,
de uma só mão que segurasse a minha,
de uma voz que cantasse
para espantar o meu chorar...
Apenas e tão somente
uma voz ecoava nos meus momentos
cobrando-me a força
que eu teria de buscar...sozinha...
Cravei nas pedras as minhas unhas,
feri-me demais
e sorvia, na sede,
as lágrimas que deixei derramar.
Tempos idos dos quais, hoje,
nada tenho a lamentar...
São marcas indeléveis,
cicatrizes da alma
que não incomodam mais.
São meus troféus!
Eu os guardo com requinte, intocáveis.
Simbolizam a causa do meu sorriso tranqüilo,
do meu sono cheio de sonhos,
do meu coração repleto de amor,
da mão que ainda posso ofertar,
da ausência de rancores,
do meu canteiro desabrochando flores,
do meu olhar ainda crente na infinitude.
Sou, sim,
uma guerreira desarmada,
lutando ainda
por amanhãs de sol...
SP, 12/05/2004
12:59 horas