Dormindo, em meus sonhos, fadas aladas

Dormindo, em meus sonhos, fadas aladas

vieram tratar de um assunto excelso;

«Errardes, pequenas! Este endereço

em que estão é indigno de vós, as sacras!»

Paradas, porém, com olhar perverço,

«Sim, contudo a urgência demanda o preço.»

«Mas o que será que valerá o preço

de se revelarem, fadas aladas?»

«Sem demagogia, humano perverço,

roubaste de nós o ser mais excelso,

por Deus nomeado líder das sacras!

É nossa Rainha neste endereço!»

«A vossa Rainha em meu endereço?!

Eu por crime tal pagaria o preço!

Mas desconhecia a vós antes, sacras;

não tenho a Rainha aqui das aladas.

Por mais que a mim fosse o valor excelso,

não tenho poder ao crime perverço.»

«Nós vemos que és cego mais que perverço,

pois tens a Rainha neste endereço!

Dorme ela ao teu lado seu sono excelso:

Tua mulher! Pagarás o preço…»

«Ela?! Jurais?! Fada! E das aladas!

Então é verdade! A esposa é das sacras…

Desposara a Rainha das fadas sacras,

não minha Rainha, sou ser perverço…

Bem que eu suspeitei, carícias aladas

ganhei dela sempre neste endereço…

Parece-me hoje cobram-me o preço

e não tenho escolha. Meu crime excelso…»

Nessa hora acordei, pois um beijo excelso

é maior que o crime, e carícias sacras

ganhei sem pagar nem pena nem preço.

«Mas e a penitência do ato perverço?»

«Nada há de perverço neste endereço.

Dá-me umas carícias tuas aladas…»

E eu as dei aladas. Um Rei excelso

fui neste endereço, e as fadas sacras,

curvadas: «Perverso… Não há mais preço.»

15/12/2017

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 15/12/2017
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