Mãe

Eu sou uma piada ruim. A risada no funeral e a sombra que não alivia o calor do sol.

Sou todas as coisas que habitam na escuridão que você não quer olhar.

Uma casca fina de mágoas e sonhos.

Concha que protege um frágil interior de pedra. Quanto mais a água bate, mais desgastada fico, embora sejam preciso séculos de golpes para me transformar em areia.

Meu rosto não fala por mim. Minhas roupas não me expressam. Meus sapatos são apenas sapatos, mas meus olhos...

Não tenha medo, mãe.

Ainda sou sua filha. Ainda sou eu. Sempre foi eu. Sempre fui eu.

Mas você não gosta de encontrar aqueles que existem dentro de mim, gosta?

Não ouça enquanto eu grito. Tampe os ouvidos. Olhe para o lado.

A tempestade de seu ventre ainda vive em mim. Todas os seus demônios foram transferidos para mim. Eu tenho todos eles trancados aqui.

Uma coleção familiar.

Me perdoe pelas coisas que farei, mas nunca se esqueça do que já fiz.

Você sempre será o pedaço mais valioso de mim. A alegria que nunca passa...

E eu sempre serei seu único projeto, a única aliança, o único parto, a única herança.

Nem todas as mulheres dão à luz. Algumas dão às trevas.

Nós somos assim.

Fernanda Oz
Enviado por Fernanda Oz em 13/12/2017
Código do texto: T6198210
Classificação de conteúdo: seguro