O MEU EPITÁFIO

Enquanto a morte me espreita eu espreito a vida. Enquanto o meu dano é dano eu não me dano. E enquanto a verdade seja a verdade a mentira que se dane.

Sou assim. Um pequeno poeta que abraça as suas palavras como se abraçasse uma pequena poesia, que de pequena não tem nada e de poesia tem de tudo.

A brincadeira das palavras me consola e a covardia do consolo me deprime. A verdade que não é verdade me assusta ao mesmo tempo em que a mentira assustadora me faz enxergar tudo o que eu já sabia, via, convivia e mesmo assim não alivia.

Enquanto o tempo for meu parceiro, vou continuar a dormir em cima do travesseiro da minha insônia e, quando desperto, voltar a sonhar a lembrança do sonho que não me lembro.

Enquanto eu for vida, assim serei a vida inteira. E quando morto, continuarei sendo a inteira vida.

Fernando Varela
Enviado por Fernando Varela em 02/12/2017
Reeditado em 02/12/2017
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